INSÔNIA
A insônia é a dificuldade de iniciar ou manter o sono ou insatisfação com a qualidade do sono e que pode interferir no desempenho das atividades sociais e cognitivas. Alguns sintomas são encontrados, como: alterações cognitivas; fadiga durante o dia; menor produtividade seja no trabalho ou nas atividades diárias de modo geral; desocupação e ausência, principalmente quando relacionado ao trabalho; distúrbios de humor; ansiedade; relações familiares e sociais prejudicadas; e acidentes no trabalho. Esses sintomas devem ocorrer pelo menos três vezes por semana por um período mínimo de um mês e estarem associados com sofrimento importante e/ou com prejuízo no funcionamento social e ocupacional do indivíduo.
A hipervigilância é fisiologicamente manifestada em pacientes com insônia por uma taxa metabólica corporal aumentada, por elevações no nível de cortisol e pelo aumento do consumo de glicose cerebral.
A insônia consiste em uma das queixas mais comuns de distúrbio do sono e sua prevalência é de 10 a 40% na população em geral. A prevalência das queixas aumenta com a idade e é maior entre mulheres, divorciados, viúvos e indivíduos com baixo nível socioeconômico e educacional. Os adultos jovens queixam-se com maior frequência de dificuldades para conciliar o sono, ao passo que os indivíduos de meia-idade e os idosos estão mais propensos a apresentarem dificuldades com a manutenção do sono e despertares precoces nas primeiras horas da manhã.
Há algumas comorbidades associadas com a insônia, como: Síndrome da má adaptação em turnos (que consiste no trabalho realizado em horários diferentes dos habituais, que possui interferência na sobrecarga física, emocional e psicológica, estresse, doenças ocupacionais e sono); Distúrbios psiquiátricos (transtorno de ansiedade, depressão, agorofobia e fobia social); Distúrbios do sono (síndrome das pernas inquietas, apneia do sono, distúrbio do ritmo circaidiano e etc); e Problemas de saúde em geral.
Deve-se questionar os pensamentos e comportamentos da pessoa. Em relação às horas antes de deitar, enquanto na cama tentando dormir e circunstâncias do despertar noturno. Realizar um diário do sono, documentando o ato de deitar diário, número de despertares durante a noite e vigília é uma estratégia recomendada. Durante um período de 2 a 4 semanas pode-se identificar se o indivíduo passa um tempo excessivo na cama, se esse período é irregular e os padrões de sono.
A polissonografia não é indicada na avaliação de rotina da insônia, pois o diagnóstico é feito clinicamente, exceto na suspeita de apneia do sono, de distúrbio de movimentos periódicos dos membros ou de parassonias prejudiciais. Nos indivíduos em quem as abordagens habituais para manejo e controle da insônia não tiverem sucesso pode-se considerar a realização de polissonografia.
Existem diversas classificações e definições para insônia, dentre elas a mais utilizada pelos profissionais da Medicina do Sono é a classificação da International Classification of Sleep Disorders (ICSD). Esta caracteriza a insônia levando em consideração três critérios. Sendo que uma dessas características deve estar presente para o diagnóstico de transtorno de insônia.
1) Queixa de dificuldade para iniciar ou manter o sono, despertar precoce ou sono cronicamente não restaurador e de qualidade ruim.
2) Os sintomas citados no primeiro critério acontecem apesar de existirem condições adequadas para o sono.
3) Presença de algumas queixas que estão relacionadas às dificuldades do sono, como: fadiga; déficit de atenção; concentração e memória; disfunção sexual, profissional e acadêmica; irritabilidade; sonolência excessiva diurna; falta de motivação e energia; propensão a erros, acidentes no trabalho ou na condução de veículos; cefaleias; tensão e sintomas gastrointestinais; e preocupação com o sono;
A insônia pode ser classificada ainda como aguda (i.e., por menos de 2-3 semanas) ou crônica (i.e., que ocorre várias vezes por ano por pelo menos 2 anos, tendo cada episódio duração mínima de 3 dias). A insônia aguda é geralmente causada por um fator identificável, ao passo que a causa da insônia crônica é, em geral, mais complexa e sua investigação exige uma abordagem clínica sistematizada.
Além disso, a insônia pode ser classificada como leve, moderada ou grave de acordo com a intensidade sintomatológica e com o prejuízo psicossocial a ela associados. A insônia também pode ser descrita como primária ou como secundária. Por definição, a insônia primária não ocorre durante o curso de outro transtorno do sono ou de outro transtorno mental, nem se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral. A insônia secundária, por sua vez, é causada por um algum fator identificável (geralmente uma condição médica ou psicológica) e apresenta uma prevalência significativamente maior do que a da insônia primária.
O tratamento da insônia primária inclui: higiene adequada do sono (evitar comportamentos e/ou aliviar condições incompatíveis com o sono reparador e a estabelecer um hábito regular de sono), terapia cognitiva e de conduta e uso de fármacos hipnóticos. Entre esses últimos, se destacam o zolpidem e a zopiclona, que melhoram significativamente o sono sem alterar sua estrutura ou induzir a uma reincidência da insônia logo após uma interrupção brusca. Além disso, o desenvolvimento de fármaco-dependência e de vício é muito pouco freqüente.
No tratamento da insônia secundária é necessária uma intervenção que atue na condição médica ou psicológica que a mantém. O tratamento medicamentoso é norteado pela condição primária apresentada pelo paciente. No caso do paciente apresentar um transtorno depressivo ou ansioso, a primeira escolha reside em um fármaco antidepressivo. Se o quadro for de psicose podem ser utilizados antipsicóticos com características sedativas. Os pacientes que apresentam insônia situacional auto-limitada (e.g., antes de um procedimento cirúrgico ou de uma viagem intercontinental), podem utilizar um benzodiazepínico hipnótico ou um fármaco não-benzodiazepínico a curto-prazo. Quando o paciente não responde a essas medicações, o uso de agonistas do receptor benzodiazepínico está indicado.
Ligantes Caio Sena e Renata Germini.
RERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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